sábado, 31 de janeiro de 2009

Sinto...

Sinto falta,
sinto falta de uma parte de mim,
parte essa que nunca foi minha de verdade,
parte que doía tanto,
agora não dói mais.

Sinto falta dos excessos,
excesso de felicidade, de liberdade, de risos,
de lágrimas intermináveis, de dor mortal,
para o que é imortal.

Sinto falta do que foi,
do que por mais que eu tentasse não voltou,
do que foi, mas se foi e não será, não é...

Sinto falta do que se desprende de mim,
do que por mais falta que eu sinta,
falta não me faz mais.
Do que caminhou, seguiu,
mas para além da eternidade estará em mim,
e nem a força maior que existe arrancará!

Sinto, não sinto, sinto.
Falta, lembranças, crianças, medo, amor, descobertas.
Se foi e permanece.

Sinto falta, mas aprendi a viver com a falta.
Não sinto mais,
Sinto muito....

Escrito dia 30-01-09
As 01:47 am

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Borboletando.

As borboletas dançam,
elas rodopiam e mostram suas cores brilhantes pela luz do sol.
Elas comemoram,
É o verão, não é inverno!
Não é lagarta!
É borboleta...
Doce como néctar de jasmim,
assustadora como casca de tronco envelhecido,
mas são borboletas...
São frágeis, são inocentes, são livres, são crianças bailando no ar...
São fantasia e personagens de milhares de contos...
São significados ocultos..
São o medo de uma menina boba! E o encanto da mesma..
São só borboletas....

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O Pequeno Príncipe - Cap. VIII

"Pude bem cedo conhecer melhor aquela flor. Sempre houvera, no planeta do pequeno príncipe, flores muito simples, ornadas de uma só fileira de pétalas, e que não ocupavam lugar nem incomodavam ninguém. Apareciam certa manhã na relva, e já à tarde se extinguiam. Mas aquela brotara um dia de um grão trazido não se sabe de onde, e o principezinho vigiara de perto o pequeno broto, tão diferente dos outros. Podia ser uma nova espécie de baobá. Mas o arbusto logo parou de crescer, e começou então a preparar uma flor. O principezinho, que assistia à instalação de um enorme botão, bem sentiu que sairia dali uma aparição miraculosa; mas a flor não acabava mais de preparar-se, de preparar sua beleza, no seu verde quarto. Escolhia as cores com cuidado. Vestia-se lentamente, ajustava uma a uma sua pétalas. Não queria sair, como os cravos, amarrotada. No radioso esplendor da sua beleza é que ela queria aparecer. Ah! Sim. Era vaidosa. Sua misteriosa toalete, portanto, durara dias e dias. E eis que uma bela manhã, justamente à hora do sol nascer, havia-se, afinal, mostrado.

Rosa 2E ela, que se preparava com tanto esmero, disse, bocejando:

- Ah! Eu acabo de despertar… Desculpa… Estou ainda toda despenteada…

O principezinho, então, não pôde conter o seu espanto:

- Como és bonita!
- Não é? Respondeu a flor docemente. Nasci ao mesmo tempo que o sol…

O principezinho percebeu logo que a flor não era modesta. Mas era tão comovente!

- Creio que é hora do almoço, acrescentou ela. Tu poderias cuidar de mim…

E o principezinho, embaraçado, fora buscar um regador com água fresca, e servira à flor.
Assim, ela o afligira logo com sua mórbida vaidade. Um dia por exemplo, falando dos seus quatro espinhos, dissera ao pequeno príncipe:

- É que eles podem vir, os tigres, com suas garras!
- Não há tigres no meu planeta, objetara o principezinho. E depois, os tigres não comem erva.
- Não sou uma erva, respondera a flor suavemente.
- Perdoa-me…
- Não tenho receio dos tigres, mas tenho horror das correntes de ar. Não terias acaso um pára-vento?

“Horror das correntes de ar… Não é muito bom para uma planta, notara o principezinho. É bem complicada essa flor…”

- À noite me colocarás sob a redoma. Faz muito frio no teu planeta. Está mal instalado. De onde eu venho…

Mas interrompeu-se de súbito. Viera em forma de semente. Não pudera conhecer nada dos outros mundos. Humilhada por se ter deixado apanhar numa mentira tão tola, tossiu duas ou três vezes, para pôr a culpa no príncipe:

- E o pára-vento?
- Ia buscá-lo. Mas tu me falavas…

Então ela redobrara a tosse para infligir-lhe remorso.
Assim o principezinho, apesar da boa vontade do seu amor, logo duvidara dela. Tomara a sério palavras sem importância, e se tornara infeliz.
“Não a devia ter escutado - confessou-me um dia - não se deve nunca escutar as flores. Basta olhá-las, aspirar o perfume. A minha embalsamava o planeta, mas eu não me contentava com isso. A tal história das garras, que tanto me agastara, me devia ter enternecido…”

Confessou-me ainda:

“Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras. Ela me perfumava, me iluminava… Não devia jamais ter fugido. Devia ter-lhe adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores! Mas eu era jovem demais para saber amar.”